mardi 21 octobre 2008

Invisible Marie

Silenciosamente eu recolho meus cacos, meus trapos, meus restos. O que sobrou de mim depois de ser duas vezes rejeitada por você. Desisto. Minha auto-estima se matou. Esfrego a cara no chão e me afogo no seco. Dissolvendo lentamente... pelo ridículo, pela vontade de ter aquilo que não posso. Não te alcanço. E você não me vê. Você nunca me viu. Nem mesmo sentada naquela sarjeta, diante daquele esgoto fétido. Totalmente bêbada, dizendo que te quero. Que te desejo. Eu pari meu coração ali mesmo. Aquelas palavras saíram rasgando. Mas eu disse. Fiz você se sentir amado. Você me fez lixo e me integrou ao esgoto. Disse que não me queria e fitou o vazio. Senti que você queria correr pra longe, bem longe. O mais longe possível de mim e das minhas palavras. Apavorado. Fiquei lá olhando pra você sem mover um músculo da minha face, completamente fodida. E então você simplesmente me deixou. Chorei e me retorci naquele chão imundo. Fui obrigada a engolir de volta o desgraçado que havia acabado de parir bem na sua frente. Engoli. Seco. Sem mastigar. Engoli tudo e fui atrás de você. Ainda pedi que segurasse minha mão. Você segurou, apertou com força e me largou de novo. Em segundos se tornou meu deserto. E nele tenho me arrastado. E as feridas quase curadas voltaram a se encher de pus e sangue. Pois hoje, mais uma vez, você me atirou ao lixo como uma folha de papel usada, rabiscada, sem utilidade. Semanas depois do primeiro episódio resolveu se aproximar de mim. Em mim desenhou, escreveu, desabafou, calculou, fez o que quis. Sorriu pra mim. Brincou comigo. Fez confidências e me aconchegou em seus braços. E então eu me deixei levar e cuspi mais uma vez meu sentimento aos seus pés. Eu disse. Disse que te gostava. Demais. E como resposta você me rasgou ao meio e me largou no fundo da lixeira com as bitucas de cigarro, latinhas de cerveja, papéis de bala e as cartas declarando seu amor à outra. Aquela. Que tem cheiro de morte. Quando ela se aproxima chega a causar náuseas. Mas o sorriso dela é largo e desavergonhado. Ela é mulher. Exuberante, selvagem, livre. É da vida, dos vícios, de curvas bem delineadas. E eu, quem sou? Sou essa sombra. Magra, pálida, inexpressiva. É com ela que a sua voz é suave e seus olhos são serenos. É com ela que seu sorriso é molhado. São as coxas dela que você quer entre as suas. E eu, o que faço? Cato as migalhas que caírem dos momentos felizes que compartilharem? Cheiro os lençóis onde ela deleitou-se com cada detalhe do seu sexo? Não quero as sobras. Quero você por inteiro. Mas de mim você não quer nada. Nem um só fio do meu cabelo roçando a sua pele. Só me resta recolher meus estilhaços... Silenciosamente....

vendredi 10 octobre 2008

coração aos porcos

Pra que quero um coração, este coração tão pleno de um vazio que me atravessa e corta e me dói inteira, tão amargo, tão independente da minha vontade, tão carrasco e filho da puta?
De que me serve este coração incapaz de amar plenamente, de se conectar, tão cego e burro quanto porta alguma jamais foi?
Pairo num tempo perdido, paralelo, grito por socorro e nunca, nunca ouço uma resposta. Será que não me ouvem? São tão incomunicáveis assim os nossos mundos? Será que são capazes de me ver?
Às vezes acredito ter conseguido uma conexão, ainda que lenta. Mas ela logo se apressa em cair, e esmera-se em cair cada vez mais fundo, só pra que eu jamais a recupere.
Não, de nada me serve isto que chamam coração, e talvez doesse menos se eu o arrancasse de mim e o jogasse na lama pra servir de alimento aos cães e aos porcos. Talvez assim ele fosse útil. Ainda que dilacerado, atirado a um solo imundo, misturado à merda da pocilga e repartido entre os porcos.
Talvez assim eu o percebesse pulsar outra vez.

Talvez.

lundi 6 octobre 2008

J'exhale

Expiro. Empurro pra longe o que me faz mal. Exorcizo as dores e as ausências do passado. Declaro-me liberta. Quero vida. Presença. Caminho.
Às dores que sei não poder evitar, curvo-me: são minhas sábias mestras.
A todo o resto, abro os braços, inspiro. Recebo.
Abro então os olhos: acabo de nascer outra vez.

jeudi 2 octobre 2008

Merde!

Je pense à toi
Poupée jolie
Toi, tu n'sais pas
Je dis merde à l'amour !