mardi 2 décembre 2008

H.

Foi em você que eu pensei quando ouvi "To build a home" pela primeira vez. Foi em você que eu pensei quando ouvi Cinematic Orchestra tocando no meu restaurante preferido. E pensei tantas outras vezes. Cada vez que ele acendia um cigarro e fitava o vazio ou inclinava a cabeça pra falar comigo, sem me olhar direito nos olhos... Era de você que eu lembrava. Quando via uma camisa azul. Quando via a ponte, quando fotografava, quando era noite e o céu estava estrelado... E durante a primavera... quando os dias eram ensolarados e bonitos. E você desaparecia. E escorria dos meus braços... pra longe. Pra nunca mais... E então eu chorava... e respirava as lembranças que tinha. O quanto de mim você levou? Às vezes eu acho que quase tudo...

Unravel

Quais são as minhas lembranças? Foram 67 horas de viagem voltando pra casa. Qual era nossa lição? Atolados na tristeza daquelas pessoas que perderam tudo. Que perderam não só objetos, mas aqueles que amavam. E quanto a nós? Fomos privados de toda a desgraça. Sabíamos que estava lá, bem do nosso lado, mas não vimos. Não vimos nada. Só que... de alguma maneira sentimos tudo. Aos poucos perdemos pedaços. Aos poucos perdemos o sorriso. Chegamos em casa com a sensação de ter passado por algo terrível. E que nunca iríamos nos recuperar. Essa sensação não era de tristeza, nem raiva, não era nada. Uma interrogação disforme. E pensei que nunca mais seria a mesma, mas os dias passaram e eu me vi sendo egoísta, impaciente, instável. Os dias passaram e aquela tragédia virou apenas uma notícia na televisão. Não entendi. Só conseguia pensar em uma coisa: Foram 67 horas de viagem e os braços de um estranho me confortaram. Ele me protegeu da chuva e do frio, me alimentou, sorriu pra mim, dormiu ao meu lado. E a pessoa que eu amo estava sentada ao meu lado completamente ausente. Dissolvida. Presa em sua própria mente. Ocupada com seus pensamentos. Não viu, não sentiu, não tocou. Todos nós presos naquele ônibus. Todos nós absorvendo aquela energia negativa que encobria o estado inteiro. Todos nós se entrelaçando, confortando uns aos outros. Tentando sorrir quando parecia impossível. Tentando dormir, mas era difícil. E depois que chegamos em casa ilesos... Após uma semana... Sorrir era tão simples. Tão leve. Dormir, passear com os amigos, observar a chuva, ser mesquinho. Era tão natural. Como esquecemos tão rápido? Como? Como esquecemos que poderíamos estar incluídos no total de mortes? Como esquecemos toda a sorte que tivemos? E como esquecemos o quanto nos tornamos unidos durante essas horas de cansaço, agonia, ansiedade, medo? E nos tornamos pessoas tão maduras, e nos entregamos tanto... eu não entendo... Essa sensação foi embora. Desapareceu completamente. É mais um pedaço que perdemos, mas desse não demos falta. Por quê?